domingo, 20 de janeiro de 2013

Andrógina


Que essa história eu vo contá, conta como eu quisé.
Da história da mulher que era homi, do homi que'ra muié
Vo tentá não prolongá, assim suas palpebra pode discansá,
Já que se tem q ficar legal, checar a rede social, seu tempo é
Precioso, ocioso, portanto serei breve em minha tese lhe apresentar.

Tese nada, é poesia na verdade. Tese é pros doutores, poesia é pra humanidade.

Lá pro fim de outros mundos, jazia um homem,desse bonitos, jovens saudáveis, até que
rico, ordinário, até que quase que interessante. Bem apessoado olhos verdes cabelo loiro
Barba mal-feita, um tesouro ( a ser escavado, ainda). Tinha seus 25 e bebia solenemente
sua cerveja, a breja com os ini-amigos que tinha conseguido capturar pelo seu mundo pequeno.
Essa tal cara se chamava Andro. Muitas mulheres o haviam acompanhado para a cama.
Vantagem essa no mundo machista-viril-competitivo, Andro havia acabado de conhecer uma mulher
No bar com seus ini-amigos. Linda, sem nomes, sem perguntas. Se olharam, ligaram-se, corpos que jamais haviam se encontrado agora não poderiam estar mais próximos. Foram na magia da noite e no encanto dióico...para a tão adorável cama de Andro. Lá dançaram a noite toda todos os ritmos(com e sem orquestra)

O dia seguinte foi mais estranho para Andro. Porque não Acordou sendo Andro. Na verdade, acordou bem não sendo andro. Acordou o oposto de Andro. Acordou, do modo mais estranho possível (Kafka que me perdoe) acordou sendo mulher. Ela acordou, chamaria assim. O genero mudou deveras. Ela se chamava Gina agora. Ela acordou e pegou seu RG, se olhou no espelho. Era tão Gina agora quanto era Andro há um dia. Se assustou, correu, chorou, sentiu-se frágil. Era uma mulher agora. "O que meus amigos pensarão disso ?" Pensava Gina desesperada. Passou-se o tempo então.

Gina percebeu que vivia em uma cidade diferente  com pessoas diferentes. A cidade não existia em sua vida anterior. O país tinha um nome diferente, o mundo tinha um nome diferente, a história do mundo havia sido diferente. Não havia nada se semelhança a não ser que tudo era diferentemente igual. Entendem?
Era como um universo paralelo. Mas ninguém era sua "versão oposta". As pessoas simplesmente, ainda que humanas, eram totalmente diferentes. Eram "universos perpendiculares", pensava Gina. Agora mulher, agora dona-de-si.

Passaram-se anos. Gina nunca voltava de seu "sonho". Gina olhou para a vida e se sentiu feliz por alguns segundos. Como o mundo é inexplicável e o amor é mais ainda...Gina se apaixonou. Por um homem.

André, o nome dele. Lindo era agora. Ela se sentia totalmente confortável com a situação, e, de certa forma, nunca deixara de ser heterossexual (Coisa que a preocupara na vida passada). Já que era outro mundo, outro corpo, outro sim e outro não...Sejamos convenientes.

Gina se apaixonou. Ficou 3 anos com André. Era um romance de propaganda de TV. Mas, o horário comercial ficou caro e ai eles terminaram. E gina chorou muito. Ligou para as amigas. Choraram abraçadas.

Comeram litros de sorvete, abraçaram suas almofadas e falaram sobre a vida. Lindas mulheres que eram.

"Homens não prestam"-Pensara Gina, no ápice de sua confusão mental. Dormiu quieta e acalmou-se.

Só que ele acordou Andro novamente. Com barba, com tudo normal. E os anos também haviam se passado. E Andro se assustou. Pesquisou sua vida nos últimos anos. Estava confuso, porém, sentia-se não sensível (O que sabemos claramente que seria impossível) e resolveu fazer algo de sua vida novantiga.
Descobriu que havia namorado uma tal de Andréia por 3 anos. Afinal, os mundos não eram tão diferentes assim. Com sua aparente transição à um universo desconhecido, Andro não sabia o que fazer. Pensou bem e viu que o melhor era continuar vivendo. Continuou esquentando sua vida com seus pensamentos belos e pouco complexos e esquentando seu corpo com mulheres belas e pouco complexas. Vivia com medo, mas acabou por conhecer outra mulher, Gisele, pela qual se apaixonou. Perdidamente.

Um dia, Andro e Gisele andavam pela praia. Andro viu uma árvore solitária em meio á praia deserta. Tão solitária quanto ele. Pegou de seu bolso uma faca e escreveu na árvore "Andro".Não sabia bem porque fazia aquilo. Assim como não sabemos de muita coisa de nossas vidas. Foi dormir feliz ao lado de Gisele, que por algum motivo, amava muito.

Acordou Gina, assustada, ao lado de Andreas, seu segundo namorado.
Acordou dessa vez muito assustada.
Correu e gritou. Parou em um canto da casa. Andreas foi ate ela. Consolou-a. Ela se acalmou
Era pesadelo, era sonho. Gina estava ficando realmente assustada. Mas aquilo lhe dava um certo prazer no fim das contas.

Passaram-se anos novamente. Só que dessa vez, as coisas ficaram realmente confusas. Gina se sentia parte morta, parte viva. É como se aquela movimentação de universos a alimentasse.

Um dia, viajou. Chegou a uma praia. Praia com mar, areia e sonhos. Praia comum. Tão comum que era comum entre dois mundos. Gina achou uma árvore onde estava escrito: "Andro.". Gina não sabia o que fazer. "Deve ser a intersecção entre os dois universos essa praia. Um vortex no espaço-tempo". Pensava quanticamente, agia com toda a ingenuidade infinita. "Se eu ficar aqui pra sempre, eu vou poder me encontrar. Quem sabe.

Andro acordou na praia. Acordou com a cabeça doída. Não haveria de haver um paralelo entre ambos? Algo que explicasse essa separação tempo-espaço de uma pessoa em dois corpos? Não haveria de haver alguma explicação?

"Há uma explicação" Disse uma voz atrás dele. "A explicação é que nos dividimos, nos multiplicamos, e continuamos sempre o mesmo tão só e desesperado ser."Era Gina  As pernas de Andro tremiam. Ambos se olharam. Não sabiam o que fazer, o que dizer...Afinal, eles tinham infinitas coisas para falar, e ao mesmo tempo, sabiam das respostas. Mas iriam falar porque não existe nada mais belo do que falar consigo mesmo. Antes de fazerem qualquer pergunta, se aproximaram. Parecia absurdo, parecia estranho. Duas pessoas dividindo a mesma consciencia? Quantas pessoas de fato existem de nós mesmos? Sem saberem, se aproximaram um do outro , e no silencio barulhento do mar se quebrando em esperança, houve um beijo.

Um beijo que acabou com a solidão de seus próprios e comuns corações. E no maior do narcisismo, houve o pequeno porém eterno romance entre uma pessoa só. Uns chamam de personalidade múltipla, uns de impossível, de esquizofrenia...Uns, mais audaciosos ainda, arriscam e chamam de amor.