segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Imortais

Correndo pela longa avenida, lá distante, agra próximo apenas ao limite do horizonte, estavam eles, dentro de um carro. Velocidade absurda, idéias mais absurdas ainda. De longe conseguia-se ver a fumaça de seus cigarros, o respingo de suas bebidas, e o eco aveludado de seu canto em uníssono. Eram jovens e viviam a vida. E diziam-se imortais

Ser imortal significava se sentir eterno e fazer daquele momento uma grande eternidade. Carpe diem, Viva La vida, qualquer frase referente à curtição.

De que se abastecia a mente dos jovens dauqele carro, no fim do horizonte? Sei que eles eram um pouco tristes, um pouco cabisbaixos. "Natural de ser humano". Falavam garbosas palavras, mesmo não sabendo o significado de nenhuma delas. Sozinhos, como já disse, eram tristes. Juntos, eram um corpo de um deus com poderes ilimitados. Daqueles deuses gregos, bonitos e imortais, gananciosos , que sempre se davam bem no final.

De longe eu ouvia seus gritos, seus sonhos, seus medos. Jovens tão contra a autoridade, tão revolucionários...Quase rasgavam suas roupas de grife de tão revoltados que ficavam. Quase quebravam seus cartões de crédito, de tão inconformados. Mas não se pode revolucionar tanto assim, não é?

Jovens que se iravam lá no final do horizonte e fumavam seus cigarros como seres cheios de desavença. Falavam de pobreza, como aquela provocada pela indústria que fazia seus cigarros. Mas cigarros não entravam em questão. Mas sim o sistema. Maldito sistema, lá do fim do horizonte até o outro lado da Terra, dominando mentes inocentes. Os jovens, cheios de amargura e vigor, não eram manipulados por nada, exceto para comprar cigarros e roupas legais. Para gastar com bebidas legais, com meninas bonitas...Se vestir bem, afinal, nem só de inteligência vive o jovem, não é mesmo?

Eram tão corajosos quando se juntavam. Derrubariam qualquer sistema que fosse, sentindo o poder da união...Lá no fim do meu horizonte. Idolatravam a libertinagem. A liberdade, o prazer. Porque pensar só em existencialismo é deveras broxante. Então combinaram, dentro do carro, dentro deles próprios, que a partir de então ninguém era de ninguém. Chega de obedecer às regras do sistema de juventude subversiva, quer dizer, de juventude alienada.

A libertinagem os possuía então. Era a festa, a orgia, a grandessíssima sensação de não estar preso. Somente preso à liberdade. Uma prisão tão difícil de sair que eles nem podiam imaginar.

Mas junto da liberdade vem também seus amigos. Um deles chama-se ciúme. Famoso por aí, entre os humanos. E o ciúme veio e torturou-os.

Ai não bastava mais acender um cigarro e esquecer da vida. Não bastava mais ser comunista de cafés caros. Agora a dor do que se chama de paixão brota e cresce velozmente. Agora se tornam inimigos, e amam aquela menina que está com aquele cara, com aquela libertinagem, com aquela liberdade. Então ruínam seus sonhos, queima em suas entranhas a vontade de ser jovem. Morrem lentamente. Abre-se então o baú da insanidade, amiga da liberdade, vizinha do ciúme, e devorados os jovens são. São devorados a ponto de ficarem loucos, de sentirem vontade de correr mais com o carro, e correr e correr, até voar da Terra, até sumir do mundo. Então um jovem motorista se embriaga e bate o carro com seus 10 amigos libertinosos e imortais. E isso é a manchete do jornal do vizinho. E parentes choram. Os jovens..Ah...são imortais. Jamais que a dor de existir iria apavorá-los.

Ai morrem...Ai não existem mais.

Ai , lá no fim do horizonte, lá do outro lado do mundo... Lá eles finalmente envelhecem

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Não sei quanto o mundo é bom...

Soube de uma história, intrigante como toda história deve ser.
Que era de uma menina, tão linda, cabelos tão longos, sorriso tão eterno...
Menina de imagens bonitas, de idéias confrontantes. Como qualquer uma deveria ser.

E de um menino, confuso, silencioso...Sonhador...

E de um amor que parecia não dar certo.

Da menina linda, foto de fundo de tela.

Do menino, poeta apaixonado, adormecido em seus próprios sonhos.

Ele gostava de flores.

Ela não

Ele trouxe flores

Ela não

Ele enfeitou sua vida de flores. Porque as flores, eram como verdades absolutas, como sentimentos concretizados. Eram tudo que não podia ser escrito em seus poemas, em seus sonhos...

Ela não chorava jamais, apenas sorria. Apenas ignorava flores.

Flores, as coitadas, envelhecem.

Homens também.

A menina linda continuou a sorrir

O menino continuou a trazer flores.

Umas morreram, outras ainda não.

Pra que flores...

Pra que flores...

A menina cresceu. A menina foi-se embora

O menino...não sei dele ao certo.

Sei das flores.

Estão lá. Estão na história.

Quão complicado é escrever sobre amor.

Quão simples é escrever sobre flores.

O menino descobriu isso. E chorou.

A menina não descobriu, continuou a sorrir e foi embora.

E de seu sorriso, não nasceu nada.
E do choro dele
Nasceram flores

Que duraram para sempre