domingo, 20 de outubro de 2013

Parenteses

Normal Normal Normal

É assim, nada mais
 A gente, o tempo, o mundo, a história. A vida.
Só normal, só é. Só foi, só será.

Normalize-se. Fique lá, que nem eles, que nem nós. Normais. Iguais, os Tais.

Saiba que é certo ser certo e que ser errado é muito errado. É muito não certo.

Normalize-se, não se escreva, não se pergunte. Só não leia esse poema

Que acaba aqui. Que acaba hoje. Que te abandonou. Que foi embora pra sempre.

Não estou autorizado a te desautorizar. É só isso mesmo a vida e a nossa pequena revolta.

Não perca seu tempo. Poste, compartilhe. Seja normal. E rápido

É muito estranho demorar.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Pierrot

Era noite de estreia. Mas ela não estava na plateia.
É noite de acorde, mesmo que ela nao concorde

Ele que era tão sabido da arte.
Ela que nem sequer fazia parte.
O que fazer? Quem eu devo ser?
Falo a verdade e me chamam de pinoquio.
Falo a mentira e chamam de solilóquio.
Ela que sabia Baskara,
E ele com a velha máscara.

Não é facil. Ele sabia ser
Ela só sabia estar
Ele só sabia perder
Ela só sabia ganhar.

O sexo é otimo, ela dizia
Ele lia, e ele só ria
Quem diria, quem diria
Que essa noite iria virar dia?

Elase foi, ele ficou
Com seus mil poemas
Com, seus mil dilemas, mil problemas
Ele era Esparta e ela era atenas.

Ele escreveu que chamariam de derrota
Ela, por ela, nao quis ser escolta
O poema vai, o poema volta.
O poema vai, o poema volta

E ele? Virou Dele
E ela? Virou daquele.
Não adianta fazer mais poesias garoto
O mundo é ruim, o caminho é torto

Ele podia ter pulado do 15 andar
Ela podia fingir nem ter ouvido falar
Ele nao pulou porem
Aguentou a loucura, amou mais ninguem

Histórias de amor são redundantes
Cansativas,
Estressantes
Criativas

Mas se ele se amar
Terá vencido a guerra
E ela cava seu tumulo
E nem sabe onde se enterra.

sábado, 20 de julho de 2013

A garota mais feia do que o fim do mundo

A garota mais feia, mais do que feia , me passou ontem um recado. Foi quase um golpe, como um ninja
Falou: "Garoto, seja seja, não seja finja. Por favor, te peço, menino esperto, de cabelos de ouro e olhos cor de céu. A Beleza é só um tribunal, você acha que é promotor, mas na verdade é só o réu'

 E eu, que era esbelto, bonito e invejável, sorri, mostrando o dente, e fiquei muito contente. Pensei:
"Ninguém lê a minha mente. Eternamente, É ter, na mente. Eterno não mente. Eternamente o enfrente"

A garota mais feia do mundo, novamente me encontrou. Me olhou, me fitou, e finalmente proclamou:
-Ou bonitão, toma postura, a vida é dura! Pra essa dor não há cura, sai dessa loucura!
Fiquei inconformado, falei:
-Mulher, você é a mais feia e alheia, não é sereia, me deixa em paz, sai satanás!
Ela disse com vigor.
-Deixe de ser tolo, pare de se dar consolo. Eu sou feia, e você é um vagabundo. Porque não existe nada mais feio do que o fim do mundo.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

inverso

Acordei num dia estranho. O café não tinha gosto, por mais que eu colocasse açúcar. O pão e manteiga também não. Fiquei um pouco assutado com aquilo. Fui tomar banho. Me esfregava, mas parecia mais sujo a cada movimento que fazia. Saí do banho com cheiro de suor. Escovava os dentes, meus dentes pareciam podres a cada escovada. Não entendia o que estava acontecendo.  Entrei no onibus. Ele estava lotado. Mas não era um lotado normal. As pessoas tocavam em mim. Me invadiam. Liguei o celular, depois de muitas tentativas. Liguei para o Mendonça, meu grande amigo. Ele não atendia. O Silva também não. Nem o Roberto. Parecia que me ignoravam. Entrei no escritório. Me olhavam feio. Tentei relevar e fui ao relatório. Mas meu teclado não digitava, pelo contrário, ele apagava a cada tecla que eu teclava. No fim do expediente, eu havia deletado todo o banco de dados do meu computador. Saí, na surdina. Esperei o onibus. Mas meu onibus estava indo na direção contrária. Eu não sabia o que fazer, no fim das contas, voltei  andando para casa. Cheguei cansado. Tomei outro banho, ficando mais suado e fedido ainda. Pensei que tudo deveria ser viagem de minha cabeça.
Tudo estava inverso. As luzes pararam de acender. O relógio não funcionava mais. Fiquei assustado. Muito assustado. Saí correndo. Corri. Minhas lágrimas eram doces. O tempo parecia que estava voltando. Tudo estava inverso, ao contrário, sentido oposto. Entrei no cemitério. Olhei para sua lápide. Te esperei. Esperei porque sabia que o tempo talvez te trouxesse de volta. Que o sol nascesse do lado oposto, e que do túmulo saísse essa única e bela mulher que um dia eu felizmente conheci.

Esperei e esperei. Mas nada, porém nada reverteu a falta que você me fazia. Nem o tempo, nem eu, nem o universo.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Andrógina


Que essa história eu vo contá, conta como eu quisé.
Da história da mulher que era homi, do homi que'ra muié
Vo tentá não prolongá, assim suas palpebra pode discansá,
Já que se tem q ficar legal, checar a rede social, seu tempo é
Precioso, ocioso, portanto serei breve em minha tese lhe apresentar.

Tese nada, é poesia na verdade. Tese é pros doutores, poesia é pra humanidade.

Lá pro fim de outros mundos, jazia um homem,desse bonitos, jovens saudáveis, até que
rico, ordinário, até que quase que interessante. Bem apessoado olhos verdes cabelo loiro
Barba mal-feita, um tesouro ( a ser escavado, ainda). Tinha seus 25 e bebia solenemente
sua cerveja, a breja com os ini-amigos que tinha conseguido capturar pelo seu mundo pequeno.
Essa tal cara se chamava Andro. Muitas mulheres o haviam acompanhado para a cama.
Vantagem essa no mundo machista-viril-competitivo, Andro havia acabado de conhecer uma mulher
No bar com seus ini-amigos. Linda, sem nomes, sem perguntas. Se olharam, ligaram-se, corpos que jamais haviam se encontrado agora não poderiam estar mais próximos. Foram na magia da noite e no encanto dióico...para a tão adorável cama de Andro. Lá dançaram a noite toda todos os ritmos(com e sem orquestra)

O dia seguinte foi mais estranho para Andro. Porque não Acordou sendo Andro. Na verdade, acordou bem não sendo andro. Acordou o oposto de Andro. Acordou, do modo mais estranho possível (Kafka que me perdoe) acordou sendo mulher. Ela acordou, chamaria assim. O genero mudou deveras. Ela se chamava Gina agora. Ela acordou e pegou seu RG, se olhou no espelho. Era tão Gina agora quanto era Andro há um dia. Se assustou, correu, chorou, sentiu-se frágil. Era uma mulher agora. "O que meus amigos pensarão disso ?" Pensava Gina desesperada. Passou-se o tempo então.

Gina percebeu que vivia em uma cidade diferente  com pessoas diferentes. A cidade não existia em sua vida anterior. O país tinha um nome diferente, o mundo tinha um nome diferente, a história do mundo havia sido diferente. Não havia nada se semelhança a não ser que tudo era diferentemente igual. Entendem?
Era como um universo paralelo. Mas ninguém era sua "versão oposta". As pessoas simplesmente, ainda que humanas, eram totalmente diferentes. Eram "universos perpendiculares", pensava Gina. Agora mulher, agora dona-de-si.

Passaram-se anos. Gina nunca voltava de seu "sonho". Gina olhou para a vida e se sentiu feliz por alguns segundos. Como o mundo é inexplicável e o amor é mais ainda...Gina se apaixonou. Por um homem.

André, o nome dele. Lindo era agora. Ela se sentia totalmente confortável com a situação, e, de certa forma, nunca deixara de ser heterossexual (Coisa que a preocupara na vida passada). Já que era outro mundo, outro corpo, outro sim e outro não...Sejamos convenientes.

Gina se apaixonou. Ficou 3 anos com André. Era um romance de propaganda de TV. Mas, o horário comercial ficou caro e ai eles terminaram. E gina chorou muito. Ligou para as amigas. Choraram abraçadas.

Comeram litros de sorvete, abraçaram suas almofadas e falaram sobre a vida. Lindas mulheres que eram.

"Homens não prestam"-Pensara Gina, no ápice de sua confusão mental. Dormiu quieta e acalmou-se.

Só que ele acordou Andro novamente. Com barba, com tudo normal. E os anos também haviam se passado. E Andro se assustou. Pesquisou sua vida nos últimos anos. Estava confuso, porém, sentia-se não sensível (O que sabemos claramente que seria impossível) e resolveu fazer algo de sua vida novantiga.
Descobriu que havia namorado uma tal de Andréia por 3 anos. Afinal, os mundos não eram tão diferentes assim. Com sua aparente transição à um universo desconhecido, Andro não sabia o que fazer. Pensou bem e viu que o melhor era continuar vivendo. Continuou esquentando sua vida com seus pensamentos belos e pouco complexos e esquentando seu corpo com mulheres belas e pouco complexas. Vivia com medo, mas acabou por conhecer outra mulher, Gisele, pela qual se apaixonou. Perdidamente.

Um dia, Andro e Gisele andavam pela praia. Andro viu uma árvore solitária em meio á praia deserta. Tão solitária quanto ele. Pegou de seu bolso uma faca e escreveu na árvore "Andro".Não sabia bem porque fazia aquilo. Assim como não sabemos de muita coisa de nossas vidas. Foi dormir feliz ao lado de Gisele, que por algum motivo, amava muito.

Acordou Gina, assustada, ao lado de Andreas, seu segundo namorado.
Acordou dessa vez muito assustada.
Correu e gritou. Parou em um canto da casa. Andreas foi ate ela. Consolou-a. Ela se acalmou
Era pesadelo, era sonho. Gina estava ficando realmente assustada. Mas aquilo lhe dava um certo prazer no fim das contas.

Passaram-se anos novamente. Só que dessa vez, as coisas ficaram realmente confusas. Gina se sentia parte morta, parte viva. É como se aquela movimentação de universos a alimentasse.

Um dia, viajou. Chegou a uma praia. Praia com mar, areia e sonhos. Praia comum. Tão comum que era comum entre dois mundos. Gina achou uma árvore onde estava escrito: "Andro.". Gina não sabia o que fazer. "Deve ser a intersecção entre os dois universos essa praia. Um vortex no espaço-tempo". Pensava quanticamente, agia com toda a ingenuidade infinita. "Se eu ficar aqui pra sempre, eu vou poder me encontrar. Quem sabe.

Andro acordou na praia. Acordou com a cabeça doída. Não haveria de haver um paralelo entre ambos? Algo que explicasse essa separação tempo-espaço de uma pessoa em dois corpos? Não haveria de haver alguma explicação?

"Há uma explicação" Disse uma voz atrás dele. "A explicação é que nos dividimos, nos multiplicamos, e continuamos sempre o mesmo tão só e desesperado ser."Era Gina  As pernas de Andro tremiam. Ambos se olharam. Não sabiam o que fazer, o que dizer...Afinal, eles tinham infinitas coisas para falar, e ao mesmo tempo, sabiam das respostas. Mas iriam falar porque não existe nada mais belo do que falar consigo mesmo. Antes de fazerem qualquer pergunta, se aproximaram. Parecia absurdo, parecia estranho. Duas pessoas dividindo a mesma consciencia? Quantas pessoas de fato existem de nós mesmos? Sem saberem, se aproximaram um do outro , e no silencio barulhento do mar se quebrando em esperança, houve um beijo.

Um beijo que acabou com a solidão de seus próprios e comuns corações. E no maior do narcisismo, houve o pequeno porém eterno romance entre uma pessoa só. Uns chamam de personalidade múltipla, uns de impossível, de esquizofrenia...Uns, mais audaciosos ainda, arriscam e chamam de amor.