quinta-feira, 25 de abril de 2013

inverso

Acordei num dia estranho. O café não tinha gosto, por mais que eu colocasse açúcar. O pão e manteiga também não. Fiquei um pouco assutado com aquilo. Fui tomar banho. Me esfregava, mas parecia mais sujo a cada movimento que fazia. Saí do banho com cheiro de suor. Escovava os dentes, meus dentes pareciam podres a cada escovada. Não entendia o que estava acontecendo.  Entrei no onibus. Ele estava lotado. Mas não era um lotado normal. As pessoas tocavam em mim. Me invadiam. Liguei o celular, depois de muitas tentativas. Liguei para o Mendonça, meu grande amigo. Ele não atendia. O Silva também não. Nem o Roberto. Parecia que me ignoravam. Entrei no escritório. Me olhavam feio. Tentei relevar e fui ao relatório. Mas meu teclado não digitava, pelo contrário, ele apagava a cada tecla que eu teclava. No fim do expediente, eu havia deletado todo o banco de dados do meu computador. Saí, na surdina. Esperei o onibus. Mas meu onibus estava indo na direção contrária. Eu não sabia o que fazer, no fim das contas, voltei  andando para casa. Cheguei cansado. Tomei outro banho, ficando mais suado e fedido ainda. Pensei que tudo deveria ser viagem de minha cabeça.
Tudo estava inverso. As luzes pararam de acender. O relógio não funcionava mais. Fiquei assustado. Muito assustado. Saí correndo. Corri. Minhas lágrimas eram doces. O tempo parecia que estava voltando. Tudo estava inverso, ao contrário, sentido oposto. Entrei no cemitério. Olhei para sua lápide. Te esperei. Esperei porque sabia que o tempo talvez te trouxesse de volta. Que o sol nascesse do lado oposto, e que do túmulo saísse essa única e bela mulher que um dia eu felizmente conheci.

Esperei e esperei. Mas nada, porém nada reverteu a falta que você me fazia. Nem o tempo, nem eu, nem o universo.