quinta-feira, 1 de maio de 2014


Serenata cinza(Começa com o intervalo de quinta)


Cidade feita de ilusão
Sempre bonita na televisão
E a gente andando na contramão
Sempre caindo em tentação

O cigarro apaga no chão frio
Onde alguém dorme, no rio
Onde alguém bebe esgoto
Mais um homem morto, quem não viu?

Os faróis tão cruéis entregando papéis
Que falam de apartamentos
Cheios de varanda e quintal
Mas não tem dormitório
Pra esse senhor velho que te pede um real

Deu o apagão e agora jesus?
Acende uma vela, incendeia favela
Que o condomínio precisa de luz.

E os onibus correm e os carros buzinam
E as empresas se expandem e as escolas afinam
E todos andando falando no celular
Peguntando se aqui é mesmo seu lugar
E no choro e na chuva nessa confusão
Tem um homem sentado com seu violão
Vendendo alegrias em liquidação

Compro ouro compro almas
Sofá sujo, não troque, me dê
Trago seu amor em 24 horas
Mesmo não tendo amor pra trazer

E as 6 horas tudo para, tudo fica.
Ninguém mandou pegar a 23
E todos lembrar que a vida é bonita
Se está assim, o que que foi que a gente fez?

Fui lá na catedral da sé
Perdi as horas, sabe como é
Perdi a vaga e o vagão
Sem querer, perdi a minha fé

E as madalenas e augustas, hoje vão fazer a festa
Nessa avenida tão injusta
Isso é tudo que nos resta
Dizem que por ali, você acha a consolação
Mas todo mundo já tem consolo
Nessa cidade de ilusão

Serenata cinza
Se souber uma, me avisa
Aliás, é o fim do dia
E já cansei de fazer poesia.
Vou pra minha casa vazia
Vou a pé vou sim sinhô.
Você acha que eu sou louco
De, nessa hora, ir de metrô?

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